segunda-feira, 31 de março de 2008

Pérolas aos porcos

Eu já cansei de falar mal do sistema de TV na forma como ele foi concebido pelo governo Lula. Portanto, vou deixar que os outros falem por mim.

Eis um link com uma crítica bastante interessante, publicada n'O Estadão e no site Digestivo Cultural.
"... parece certo que, ainda neste semestre, será possível apreciar com maior nitidez e melhor sonoridade a brejeirice de Márcia Goldschmidt e Sonia Abraão, a breguice de Hebe, Gugu, Otavio Mesquita e Raul Gil, os ademanes de Gasparetto e os púlpitos e pátios dos milagres de todos os bispos e pastores da Rede TV! e da Record. Pérolas aos porcos".
Nem só de boas imagens se faz um sistema de TV Digital. Conteúdo é o principal diferencial. Tivemos a oportunidade de diversificar. Mas pelo apoio das empresas de TV em época de campanha o Lula preferiu dar alta definição a um povo que mal consegue botar comida na mesa, quanto mais uma TV com tecnologia de HD na sala...

terça-feira, 25 de março de 2008

O que está acontecendo com o Ginga-J?

Eu já estou cansado de falar dos vários problemas de condução do projeto do Ginga-J (vide aqui, aqui e aqui). Este post é inspirado pelo questionamento feito pelo meu amigo Bruno Ghisi, o Joca, no blog dele e ajudado ainda por esta, esta e esta notícia, entre outras.

Deu a louca na imprensa e algumas decidiram questionar o que está acontecendo - como o Joca - ou simplesmente constataram que algo está fedendo. A fonte mais completa diz o seguinte:

"Blocos de software que fazem parte do Ginga, sistema de interatividade criado por pesquisadores locais, podem exigir pagamento de royalties para a empresa americana Via Licensing. Ela é dona de patentes do MHP, software de interatividade europeu, e do OCAP, americano, com os quais o Ginga é compatível."

...

"Na Europa, os fabricantes precisam pagar US$ 1,75 por equipamento vendido à Via Licensing, e cada emissora US$ 100 mil, para oferecer interatividade para 2,5 milhões de espectadores ou mais. 'Os radiodifusores na Itália estão furiosos, porque o pagamento não era previsto quando adotaram a tecnologia', disse Castro. No fim do ano passado, quando a TV digital estreou no Brasil, os pesquisadores que criaram o Ginga diziam que a tecnologia estava pronta, enquanto a indústria falava que não. 'Existe muito ruído', disse o professor Guido Lemos, da Universidade Federal da Paraíba, que liderou os trabalhos do Ginga-J, parte do sistema que usa o GEM."
Eu dei uma vasculhada pra descobrir quem é essa tal de Via Licensing. É uma empresa especializada em criar patentes relacionadas a softwares e tecnologia. O trabalho deles é atrapalhar a vida de quem quer fazer uso das tecnologias de multimídia - e queira ou não é um trabalho legítimo. A lei está do lado deles e alguém deve ter gasto bastante dinheiro e muito fosfato pra criar essas tecnologias, achando assim que tem o direito de receber pelo uso de tudo o que criaram.

Bom, eles detêm nada mais nada menos que as patentes de uso dos padrões MPEG-2 AAC (Advanced Audio Coding - um dos sistemas de codificação de áudio definido no padrão MPEG-2 - é utilizado no antigo modelo Japonês de TV Digital, o ISDB-T), MPEG-4 AAC e MPEG-4 HE AAC (o mesmo que o anterior, mas definido no mais evoluído padrão MPEG-4, que é utilizado pelo ISDTV - o modelo nipo-brasileiro), toda a especificação do OCAP (o middleware do modelo americano de TVD) e mais alguns outros padrões.

Pois bem, suponho o seguinte: o pessoal da Paraíba, na pressão de terminar o projeto a tempo e com os parcos recursos disponíveis, fizeram o uso das ferramentas que tinham em mãos para implementar a primeira versão do middleware num prazo recorde de 10 meses. Entre essas ferramentas estaria o JMF (Java Media Framework) - conforme o artigo escrito pelo próprio prof. Guido Lemos, o cabeça da equipe da Paraíba. O JMF, por sua vez, deve utilizar código protegido pelas tais patentes da Via Licensing. Talvez por isso o Forum SBTVD tenha recorrido diretamente a Sun Microsystems para fazer uma implementação open-source, uma vez que o JMF foi criado e ainda é mantido pela empresa.

É possível que algumas outras bibliotecas tenham problemas de patentes. Talvez não seja o JMF a parte com problemas. Nada oficial foi divulgado sobre o assunto. Mas creio que os problemas não estão muito longe do citado acima.

E toda essa explicação ainda não resolvem algumas das questões levantadas pelo Bruno em seu blog. Eis as respostas que eu daria para os questionamentos dele:

1. how can you drive an open source project without clearity? (Como pode um projeto open source não ser gerenciado com clareza).

Bom, até agora o Ginga-J não foi aberto pra ninguém. Já escrevi algumas vezes sobre isso, como indiquei acima. Acho que ainda não foi aberto por motivos comerciais ou por medo de gerar uma decepção acadêmica no caso de não terem conseguido terminar em tempo hábil a implementação do middleware.

Se a segunda opção fosse o motivo da não liberação, é válido dizer que não considero incompetência. O projeto do middleware é de uma complexidade enorme e é bem grande a chance de vários problemas terem impossibilitado o desenvolvimento do projeto no prazo estipulado pelo governo.

Mas a hipótese de aproveitamento comercial da pesquisa financiada com os recursos públicos é bastante forte e fundamentada conforme explica esta notícia do site do Estadão.
"... Ex-alunos do professor Guido Lemos, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), formaram uma empresa, chamada Mopa Embedded Systems, para transformar o Ginga em produto. O software foi desenvolvido por equipes na UFPB e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
...
A previsão é que a primeira versão completa do software fique pronta este mês. 'Em dezembro, deveremos ter quatro ou cinco fabricantes com o Ginga', disse Lemos. A Mopa tem 40 pessoas, divididas entre João Pessoa e Natal. 'É um time que trabalha com o middleware há vários anos, com um custo de produção que disputa com os chineses e está abaixo do dos indianos.'"
Nem foi a público o produzido na UFPB e já tem empresas trabalhando em cima do código!!! E o pior é que essa notícia é de setembro de 2007!!

Se for confirmado esse aproveitamento comercial, estaria aí um belo exemplo de mau uso dos recursos públicos em prol de interesses privados. Por isso eu tenho exigido a tanto tempo a abertura do código do Ginga-J, estando ele completo ou incompleto. Pelo menos assim seria de domínio público e sua correção poderia inclusive ser agilizada se mais pessoas pudessem trabalhar no projeto (tendo elas interesses comerciais, como a tal Mopa, ou não).

Só o que temos aberto até agora é o código do Ginga-NCL, e com um projeto exemplarmente gerenciado.

2. Where can I download all the stuff? (Onde eu posso fazer o download do código e documentação?)

Do Ginga-J, em lugar algum. Do Ginga-NCL, no Portal do Software Público Brasileiro.

3. Where is the roadmap? (Onde está o histórico do projeto?)

Do Ginga-NCL, no Portal do Software Público Brasileiro. Você pode encontrar algo também no portal do SBTVD, mantido pelo CPqD. Mas as informações são de um nível de detalhamento altíssimo e de cunho bastante acadêmico, o que acaba dificultando bastante o entendimento.

4. So, Sun published that will help Forum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (Forum SBTVD) to create a new plataform that will take place at Ginga. The announcement says that this platform will be compatible with Ginga, so is it a replacement for Ginga-j? How will be that? (Então, a Sun publico que irá ajudar o Forum do SBTVD a criar uma nova plataforma que irá tomar o lugar o Giga, isto significa que fação um software que irá repor o Ginga-J? Como se dará isso?)

Imagino que não farão um novo Ginga-J mas sim novas implementações para as bibliotecas proprietárias que o Ginga-J faz uso.

Bom, está mais do que na hora de acontecer exclarecimentos públicos definitivos sobre o assunto. Me sinto um palhaço com isso tudo. Meu dinheiro está em jogo. Não quero que me passem a perna. É uma pena que poucas pessoas enxerguem como as coisas estão fluindo por baixo dos panos da complexidade técnica e política envolvida no assunto.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Lançado o 1º curso de pós-graduação em TV Digital

Bom, desculpas pelo sumiço.
Além de trabalhar com tecnologia eu também me arrisco na música e estive envolvido com um dos mais importantes festivais de música independente de SC, o Rural Rock Fest.

Mas passada a correria, devolta ao que interessa. Esta aqui é do começo de março.
Passados aproximadamente 4 meses de dar a notícia de que a Capes estaria financiando projetos de formação de recursos humanos especializados em TV Digital, sai o primeiro curso de pós-graduação especializado em TV Digital no Brasil.

Ele será ministrado na Unesp (Universidade do Estado de São Paulo), no campus de Bauru, e "objetiva formar profissionais para atuar nos diversos segmentos do processo de implantação da televisão com tecnologia digital. Serão oferecidas 24 vagas por ano. Com início previsto para agosto, as inscrições para o processo de seleção devem ocorrer entre junho e julho."

"De característica multidisciplinar, a estrutura curricular abrangerá estudos teóricos, metodológicos e práticos em comunicação, educação e tecnologia. Segundo a pró-reitora de Pós-graduação Marilza Vieira Cunha Rudge, o formato proposto para o curso traz benefícios à comunidade e acompanha as demandas do mercado."

Está dada a largada. Logo logo começam as inscrições. Eu não cheguei a conhecer ninguém da Unesp nos tempos em que estive envolvido com o SBTVD nem ouvi falar de nada que tenha sido produzido por lá no que se refere a TV Digital. Ainda não se sabe qual será o corpo docente e outros cursos devem pipocar pelo país ao longo do ano. Vale esperar para ver.

quarta-feira, 19 de março de 2008